De acordo com o filme Nosso Lar, baseado no livro psicografado por Chico Xavier, o paraíso é hightec, tem jardins com flores organizadas, os purificados se vestem com modelitos seda pura, e para subirem na nave de reencarnação o traje exige salto alto e maquiagem leve.
A arquitetura do Paraíso divide-se em dois tipos: casinhas pintadas com cores infantis, coladas umas nas outras, sem nossas leis que determinem um espaço mínimo entre uma e outra, e prédios futuristas.
O Paraíso parece uma clínica chique de recuperação de viciados.
Nosso lar não é um degrau para o Paraíso, é o próprio. De lá voltamos e pra lá retornamos, num vaivém sem fim. A alternativa é o Umbral. Uma espécie de halloween na floresta para viciados em crack.
A única opção profissional no Paraíso é ser médico ou enfermeiro. Receber os mortos (em péssimas condições todos) e cuidar deles como numa Emergência Eterna.
Lazer é ouvir música clássica, enviar mensagens para os vivos, e ficar sentado olhando para o Lago.
Do Nosso Lar não se vai, volta-se.
Eu, que não queria viver demais para não passar pelos constrangimentos, estou revendo minha posição e pretendendo passar dos cem anos.
Com exceção dos recém-chegados, que ainda estão em recuperação, os “mortos” ficam arrumadinhos, burocratizadinhos, comportadinhos, assépticos, vestidos de branco e sorrindo. Não tem clima pra sexo no Paraíso.
A natureza do Paraíso lembra um jardim de hotel-fazenda, toma-se sopa e bebe-se água, e só os pássaros vão para o Céu. Não há lugar para outros bichos. Ciúme é pecado mortal.
Como no serviço público terreno, no Paraíso, todos são considerados “servidores”, e não há espaço para a criatividade. As verdades já estão prontas, ninguém pratica esportes, o Paraíso é cercado por muros de pedra e fica longe da praia.
Ou seja, o Paraíso é um inferno.
O Paraíso hippie era muito melhor, mas passou.