Andei um tempo sem ir ao cinema. Problema de coluna. Aos cinquenta e quatro anos, troquei minha carteira falsificada de estudante por uma carteira falsificada de idosa. Senior, melhor. Seniora. Há muito tempo não via uma plateia (sem acento) aplaudir um filme. Imperdível. Leve um lenço. Dá vontade de chegar em casa, autorizar a cremação de seu corpo e tacar fogo no Cemitério São João Batista. Quero ser flambada de baton e brinco, e unha pintada. Por favor, muita música. Minha vida é alegre e, seja quando for, namorei muito, tenho filha e neta, emprego fixo, como mamãe sonhava, e continuo artista, como sonhava eu.
Torna a morte bela e nos poupa da reencarnação.
No enterro de um parente querido, chegou um homem simples com uma necessaire simples. Dentro tinha um lápis meio sem ponta e um baton. Eu mesma fiz questão de maquiar minha irmã, e perguntei ao rapaz simples se ele tinha visto este filme, ele disse que sim.
Sugeri que ele implementasse um estojo de maquiagem.Quem precisa de grana, inventa.
